sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Preservação e acessibilidade

Um dos desafios centrais nas intervenções em patrimônio cultural edificado é a incorporação de critérios de acessibilidade, que historicamente seguiam caminhos dissociados dos princípios de preservação. Durante décadas, o distanciamento entre essas disciplinas dificultou projetos de restauro orientados para a inclusão. No entanto, atualmente, considera-se que integrar acessibilidade ao patrimônio é uma necessidade imperativa para projetos contemporâneos.

No caso de construções centenárias, é compreensível que a aplicação literal das normativas modernas seja limitada; por isso, diretrizes de acessibilidade devem ser avaliadas individualmente, respeitando as metodologias específicas de restauro.

A seguir, apresentamos um estudo realizado para o Museu do Café, em Santos, no Salão do Pregão. Embora pessoas com deficiência (PCD) conseguissem transitar pelo espaço, os degraus dificultavam o acesso ao espaço sob o vitral e às telas de Benedicto Calixto. Desenvolvemos rampas desmontáveis e removíveis, sem interferir na estrutura original, respeitando, assim, a integridade material do patrimônio.

Como se observa nas imagens, a intervenção produz um impacto visual evidente, porém positivo: um testemunho do compromisso com a inclusão, refletindo um tempo de transformações sociais em que o patrimônio cultural acolhe a todos

Rampa de acesso para as telas de Benedicto Calixto

Rampa de acesso para a área sob o Vitral


* fotos montagem - Py Vieira Arquitetura e Eventos Ltda.
Postado por Cristiane Py

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Jornada do Patrimônio 2020

Em resposta às frequentes perguntas de seguidores sobre a ausência de postagens relativas à Jornada do Patrimônio em São Paulo em 2020, esclareço que a edição desse ano de fato ocorreu e abordou o tema 'Nossa cidade, nossas memórias.' Este foi o sexto ano do evento, que, diante dos desafios impostos pela pandemia de Covid-19, adaptou-se para incluir atividades virtuais, promovendo o diálogo sobre a preservação cultural de forma segura e acessível.

Optando por respeitar as medidas de segurança sanitária, participei de uma atividade em área aberta, visitando a Vila Normandia, um local de significativo valor histórico e arquitetônico. A visita permitiu uma experiência direta com o patrimônio edificado, reforçando a importância de espaços de preservação que conectam a população à história urbana de São Paulo. 

"A Vila Normandia é um conjunto de 54 sobrados nas ruas Normandia e Gaivotas, no bairro de Moema, nos trechos entre as avenidas dos Eucaliptos e Cotovia.

Os sobrados se destacam na paisagem por sua arquitetura de inspiração normanda, formando grupos de seis residências geminadas (construídas lado a lado e sem espaços entre elas). Foram projetados por Roberto Frade Monte, Antônio Castanheira Neto e William Hentz Gorham, a pedido de seu proprietário, José Fernandes Chaves, e construídos entre 1950 e 1959. Nesta época, o bairro de Moema começava a se formar e José Fernandes Chaves pretendia investir no ramo de moradias de aluguel. Hoje todos os sobrados estão ocupados por estabelecimentos comerciais, como lojas e serviços diversos."




Para acessar as outras edições da Jornadas do Patrimônio em São Paulo acessem os links abaixo.





*imagens da autora

Postado por Cristiane Py

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Frase inspiradora:

 "O passado não é abstrato; ele tem a realidade material como patrimônio, que por sua vez tem consequências materiais para a identidade e o pertencimento da comunidade. O passado não pode simplesmente ser reduzido a dados arqueológicos ou textos históricos - ele é patrimônio de alguém."

Laurajane Smith

Uses of Heritage - pag.29

tradução livre da autora

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Jornada do Patrimônio - 2021

    No fim de semana dos dias 11 e 12 de setembro ocorreu em São Paulo a sétima edição da Jornada do Patrimônio. Já postamos aqui no blog posts falando das edições anteriores. Seguem o links abaixo:

- Jornada do Patrimônio 2017 - A técnica do micro jateamento

- Jornada do Patrimônio 2018 - O Bairro do Pacaembu na Jornada do Patrimônio

- Jornada do Patrimônio 2019 - A Casa Amarela da Vila Romana


Em 2020 e 2021, em função da pandemia do COVID-19,  foram acrescentados eventos on-line.

Neste ano foi e ainda é possível visitar os imóveis históricos (uma das principais atrações do evento) por vídeos simulando uma visita guiada. O bom é que alguns vídeos continuam à disposição para aqueles que não conseguiram acessar nos dias do evento.

Compartilho aqui com vocês alguns desses links. 

Não percam essa oportunidade de conhecer, sem sair de casa, o patrimônio da cidade de São Paulo. 







Esses são só alguns dos links disponíveis para as visitas on-line. Acessem o site oficial do evento para ter acesso aos demais vídeos:


*imagens: site oficial do evento - link acima!

Postado por Cristiane Py

sábado, 4 de setembro de 2021

Estudos e análises também para pequenas intervenções.

Qualquer intervenção em um patrimônio cultural edificado deve sempre ser acompanhada de um estudo e por profissionais habilitados, mesmo que a intervenção seja pontual.

Vamos mostrar abaixo um estudo de caso.

Laje pátio descoberto antes da execução das obras

Infiltrações no piso inferior

Nessa edificação há, no terceiro pavimento, um pátio descoberto cuja a laje apresentava sérios problemas de infiltrações trazendo danos para as salas do pavimento inferior.

Para sanar as infiltrações era necessário refazer a manta de impermeabilização e, para isso, o piso existente deveria ser removido.

O piso era composto na sua maior parte por cimentado, mas possuía nas laterais uma tabeira de pedra ardósia e, ao centro, uma passadeira de ladrilho.

Tabeira de pedra ardósia
Passadeira em ladrilho

Após pesquisa, foi descoberto que a tabeira em ardósia havia sido instalada em uma intervenção recente realizada já com o intuito de tentar solucionar as infiltrações, mas sem sucesso.

Foi realizado então um parecer técnico acompanhado de um relatório fotográfico para apresentação e aprovação nos órgãos de preservação.

A princípio foi previsto que a passadeira em ladrilho hidráulico fosse removida cuidadosamente, peça por peça, para reinstalação após o refazimento da manta de impermeabilização.

Com o início da obra foi verificado que o ladrilho estava muito aderido à superfície e apenas 10% das peças conseguiram ser removidas sem quebra. Essas peças foram usadas para reposição das soleiras.

A manta de impermeabilização e o contra-piso foram executados conforme o parecer, mas novos estudos foram iniciados para a definição do revestimento a ser instalado.

O ladrilho da passadeira, bem como o desenho das peças, também está presente em diversas outras áreas da edificação e a opção de executar réplicas não se justificava.

Piso similar ao da passadeira, presente em outras áreas da edificação.

A instalação de um piso cerâmico de mercado não se mostrou satisfatória por ser difícil conciliar o diálogo entre a cerâmica nova e o ladrilho antigo existente nas áreas adjacentes.

Após estudos e pesquisas, o material escolhido para o revestimento do pátio foi o fulget em tom cinza.

Piso fulget

O piso fulget é um piso feito com pedras moídas e, por ser antiderrapante, ideal para áreas externas. Ele é similar ao granilite, mas por não possuir resina tem um aspecto mais rústico.

A técnica do granilite foi trazida para o Brasil por imigrantes italianos há 50 anos, mas desde o século XVII os ancestrais do granilite e do fulget já eram executados na cidade de Veneza, Itália.

Por ser um piso atemporal, o diálogo entre o piso fulget com os revestimentos originais se fez de forma harmônica mantendo os pisos antigos como protagonistas, mas não deixando de registrar a marca do seu tempo.

Pátio descoberto com a obra finalizada - revestimento em piso fulget.

Vale ressaltar que antes da execução do piso fulget um parecer complementar foi apresentado para aprovação nos órgãos de preservação. 

*imagens da autora
* imagem piso fulget - acesso setembro/21 https://conspem.com.br/

Postado por Cristiane Py

sábado, 28 de agosto de 2021

Segue a dica: Proteção e revitalização do patrimônio cultural no Brasil.

Neste blog, frequentemente abordo a importância do estudo aprofundado da história, pois compreender o passado é fundamental para interpretar o presente e projetar o futuro. No contexto das intervenções em patrimônio cultural, a pesquisa sobre o histórico do bem, bem como sua relação atual com a comunidade, é essencial para fundamentar diretrizes precisas de restauro.

Entretanto, também é necessário compreender a história da própria preservação patrimonial. Trata-se de entender o desenvolvimento das políticas de proteção ao patrimônio — a evolução das leis, decretos, instituições e programas que, ao longo das décadas, estabeleceram diretrizes para a preservação cultural.

Para aqueles que desejam se aprofundar no tema, indico três leituras essenciais:

  1. 'Livro Amarelo': Este volume documenta os primeiros projetos de lei dos anos 1920 até o início dos anos 1980, traçando a evolução legislativa e institucional da preservação no Brasil.

  2. Coletânea de Aloísio Magalhães: Esta seleção de artigos, escritos e discursos de Aloísio Magalhães destaca as contribuições desse pioneiro, que nos anos 1970 e 1980 revitalizou valores do anteprojeto de Mário de Andrade (1936), contribuindo para o desenvolvimento da política patrimonial brasileira.

  3. Obra de Françoise Choay: Neste estudo, a historiadora francesa explora a trajetória do conceito de patrimônio, desde o monumento antigo até a era da indústria cultural, oferecendo uma visão crítica e histórica no contexto europeu.

Essas leituras são fundamentais para compreender não apenas a história dos bens culturais, mas também a evolução da consciência e das práticas de preservação patrimonial.


*imagens da autora

Postado por Cristiane Py

domingo, 22 de agosto de 2021

Frase inspiradora:

 "[...] uma nação não se constrói apenas com a preservação das suas representações mais monumentais, no sentido de obras de arte, no sentido de acabamento intelectual e no sentido de formas expressivas e elitistas do fazer do homem neste contexto. Uma nação se constrói à base da soma dos gestos, dos comportamentos, das atitudes, dos feitos, das realizações que envolvem todos os seres na integração com o espaço que lhe é destinado, espaço físico, o espaço do qual ele é dono, tutor e ao mesmo tempo responsável."


Aloisio Magalhães

Bens culturais no Brasil: um desenho projetivo para a nação

pag. 320

sábado, 14 de agosto de 2021

O Caso das Cremonas

No post Revista Restauro - No canteiro da obra no antigo edifício da Bolsa Oficial do Café - Museu do Café - Santos/SP compartilhei um pouco da experiência de fiscalizar uma obra de conservação e restauro.

Várias foram as adversidades encontradas no caminho, cito algumas delas no artigo, e hoje vou compartilhar com vocês o caso das cremonas que aconteceu na vistoria de entrega provisória.

Para quem não sabe, segue a definição dada pelo Dicionário da Arquitetura Brasileira Corona & Lemos:

CREMONA - Ver CARMONA

CARMONA - Ferrôlho que, colocado em tôda a altura de uma janela ou uma porta se aloja a um só tempo em cima e em baixo. A palavra dêste verbête é um galicismo que provêm de "cremone", e daí a existência entre nós, também, da forma CREMONA (sic)

mas vamos simplificar colocando também a definição dada pelo dicionário on-line de português:


No Salão do Pregão da edificação há 5 portas de madeira com vidros coloridos e cremonas ricamente ornamentadas. Vejam a foto abaixo.



Essas portas passaram por processos de higienização, conservação e restauro, incluindo suas ferragens (entre elas as cremonas).

02 portas não possuíam mais as cremonas originais que foram perdidas no tempo. Para o bom funcionamento dessas esquadrias fazia-se necessário repor as cremonas.

Nem o memorial e nem o projeto de arquitetura especificava qual modelo ou a forma de reposição dessas peças. A equipe de obra então seguiu a metodologia de não fazer uma réplica das peças históricas e instalou peças contemporâneas.

Aí começou o Caso das Cremonas.

Vejam abaixo foto da cremona original e, ao lado, a foto da cremona  instalada pela equipe de obra.


A justificativa pela equipe de obra em não fazer uma réplica para evitar um falso histórico era sim muito pertinente, mas a cremona não foi aceita pela minha fiscalização.

Minha justificativa foi que poderiam ser usadas peças atuais para substituição, mas elas deveriam seguir o mesmo padrão que as originais. Ou seja, não há problema em substituirmos peças faltantes por peças novas, desde que as novas peças dialoguem e harmonizem com as peças pré-existentes.

O modelo da peça instalada pela equipe de obra era visualmente inferior às cremonas originais.

Posso dizer que a discussão foi longa e acalorada, sempre é assim nas obras de restauro quando existem pontos de vistas diferentes entre os integrantes das equipes, mas, no fim, a equipe de obra se comprometeu a pesquisar e encontrar uma cremona compatível com o bem patrimônio cultural.

Vejam abaixo a cremona, facilmente encontrada no mercado, que, apesar de ser uma peça contemporânea, dialoga e se harmoniza com as peças pré-existentes e a edificação patrimônio cultural.


O Caso Cremona é uma situação muito comum em obras de restauro mas para evitar esse tipo de conflito seguem algumas dicas:

- Para o arquiteto: fazer um projeto de restauro bem detalhado e com especificações completas.

- Para o executor da obra: caso haja itens em abertos no memorial ou no projeto sempre questionar o projetista e ou a fiscalização antes de tomar um decisão. Vale lembrar que a interdisciplinaridade no restauro é fundamental.

- Para o fiscal: seja sempre aberto ao diálogo. Nesses momentos o que vale mais é a troca de idéias e não  a imposição de valores.

*imagens do acervo da autora
Postado por Cristiane Py

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Frases inspiradoras: Carta do Rio de Janeiro - UIA2021Rio - 2021

" O Centro das cidades representa o território da cidadania, patrimônio histórico e cultural da sociedade, símbolo do espaço democrático e lugar de expressão da diversidade. Os centros precisam ser permanentemente cuidados e valorizados, para evitar seu esvaziamento simbólico, econômico, político e social."



"A boa cidade é aquela que tem como foco a condição humana, o respeito ao meio ambiente, a valorização do patrimônio natural, histórico e cultural [...]"

Carta do Rio de Janeiro - 2021


Postado por Cristiane Py

terça-feira, 20 de julho de 2021

Dos tempos que não havia...

"Nós podemos viver sem ela [arquitetura], e orar sem ela, mas não podemos rememorar sem ela"

Esta frase do teórico inglês John Ruskin está na lateral do nosso blog. Vejam ao lado!

Também a coloquei no fim do artigo da Revista Restauro sobre a obra de conservação e manutenção das fachadas do antigo prédio da Bolsa Oficial do Café Museu do Café - Santos - SP.

Esta é uma das frases que eu mais admiro na área da preservação pois ela sintetiza a importância da preservação do patrimônio edificado.  

Abaixo seguem imagens da última viagem que fiz para Ouro Preto-MG. Observem o quanto rememoramos em uma cidade histórica! E não é só a arquitetura, os objetos também são uns dos principais suportes de um tempo passado. Sem eles, como dizia Ruskin, não poderíamos rememorar.

Do tempo que não havia água encanada

Do tempo que câmara e cadeia dividiam o mesmo espaço

Do tempo que se fazia mineração com as próprias mãos

Do tempo que não havia redes sociais. Os bancos nas pontes!

Do tempo que não havia fechadura com sensor digital

Do tempo que não havia streaming - Teatro Municipal

Do tempo que não havia arranha-céus

Do tempo que não havia telefone.

Do tempo que não havia cartão de crédito

Do tempo que não havia gás encanado e nem de botijão.

*imagens da autora

Postado por Cristiane Py

terça-feira, 29 de junho de 2021

Frase Inspiradora:

 "[...] os bens patrimoniais não são apenas aqueles relacionados a funções de prestígio dentro da sociedade e que, em sua recuperação, tampouco é obrigatório um destino especialmente importante, de prestígio: uma vez que na comunidade não existem funções "nobres" ou "plebeias". Aceitando o atual conceito de cultura, que abarca a totalidade da produção de um grupo humano, dessacraliza-se a ideia de monumento como único representante da cultura e orienta-se a preservação do passado em direção a um serviço mais real à comunidade e com um maior grau de flexibilidade."


Marina Waisman

O Interior da História - pag.195


Postado por Cristiane Py

terça-feira, 25 de maio de 2021

Red House School Ipiranga - Um projeto de restauro

O Casarão

Construído nos anos 1920 no bairro do Ipiranga na cidade de São Paulo, o casarão em estilo eclético foi uma das moradas da família Jafet/Assad durante algumas décadas e ajudou na urbanização e crescimento do bairro do Ipiranga.

O casarão é protegido, em conjunto com mais cinco casarões do bairro, pela instância municipal desde 2005 e, por se encontrar na área envoltória do Parque da Independência, também é protegido pela instância estadual.

Desde final dos anos 1970 que o casarão mudou de uso passando, desde então, a ser alugado para uso comercial ou institucional. Apesar de vários locatários sua história, arquitetura, tipologia, ornatos e bens integrados se mantinham em bom estado de preservação.

A Red House Internacional School

A Red House School já tem tradição em se instalar em imóveis ou bairros reconhecidos como patrimônio cultural. O Campus Higienópolis, o Campus Recife e o Campus Pacaembu são alguns exemplos.

Para essa região de São Paulo, a escola não podia ter tido melhor escolha e o casarão, desde 2020, passa então a abrigar o Campus Museu do Ipiranga.

O projeto

Para o projeto de revitalização e restauro foi montada uma equipe multidisciplinar, apaixonada por toda a história do casarão e comprometida com o programa de necessidades da escola. O resultado vocês podem ver nas imagens abaixo e, para mais informações, acessem os sites: 

https://archello.com/project/red-house-school-ipiranga

https://casavogue.globo.com/Arquitetura/Edificios/noticia/2021/05/casarao-historico-da-familia-jafet-vira-escola-em-sao-paulo.html

Arquitetura: STUDIO DLUX

Consultoria de restauro: Cristiane Py e Nattalia Bom Conselho

Fotos: Hugo Chinaglia








Postado por Cristiane Py

sexta-feira, 14 de maio de 2021

A arquitetura moderna e o concreto armado - desafios da preservação.


O desafio de proteger a arquitetura moderna decorre da dificuldade de reconhecer seu status como parte do passado. Como aponta Flávia Brito do Nascimento:

"O dilema das proteções à arquitetura moderna adveio das dificuldades de considerá-la passado. Um dos pontos nodais é o aparente paradoxo de se preservar uma arquitetura postulada para romper com as tradições. "

Flávia Brito do Nascimento
Habitação social, arquitetura moderna e patrimônio cultural.
pag. 440

Essa reflexão fundamenta este post, uma vez que o dilema se estende não apenas à proteção, mas também às intervenções necessárias em tais estruturas.

A intervenção em edifícios de concreto aparente, especialmente quando apresentam degradação em função do tempo, suscita questões complexas: como preservar a pátina do tempo sem comprometer a estrutura? Como restaurar a integridade e segurança de uma obra moderna? Embora essas perguntas sejam desafiadoras, a intervenção em concreto armado deve seguir os princípios metodológicos da disciplina de restauro, como em qualquer bem patrimonial. Alguns pontos fundamentais incluem:

  • Um estudo profundo do bem, tanto histórico quanto estrutural, por meio de pesquisas documentais, iconográficas e análise dos projetos originais;
  • A formação de uma equipe multidisciplinar, integrando especialistas, especialmente engenheiros estruturais;
  • Uma abordagem individualizada para cada caso de intervenção.

Essas são questões cruciais para nossa geração de arquitetos e engenheiros, uma vez que o concreto está envelhecendo rapidamente. Embora já estejamos iniciando o processo de pesquisa e preservação, muito ainda resta a ser descoberto e compreendido.

Recentemente, tive a oportunidade de assistir à aula Concreto Armado na Arquitetura Moderna, oferecida pelo Centro de Estudos e Ensino Avançados da Conservação Integrada - CECI. Na aula, os professores Luiz E. B. Cardoso e Sílvio Oksman apresentaram estudos de caso sobre a TV de Brasília e o MASP, respectivamente, proporcionando reflexões e perspectivas fundamentais para o desenvolvimento contínuo desse campo.




Postado por Cristiane Py

terça-feira, 27 de abril de 2021

Revista Restauro - No canteiro da obra no antigo edifício da Bolsa Oficial do Café - Museu do Café - Santos/SP

Desde agosto de 2020 estou fiscalizando a obra de conservação e manutenção das fachadas do antigo prédio da Bolsa Oficial do Café - Museu do Café em Santos/SP.

A convite da Revista Restauro (que já foi assunto no nosso blog) escrevi um artigo contando um pouco desse desafio. Sim, toda a obra em um patrimônio edificado, seja ela de restauro ou de manutenção e conservação, é um desafio diário. Na verdade, um diálogo diário com o patrimônio cultural.

Já dizia o Mestre Ferrão: Quem diz como deve ser feito o serviço é o monumento.

Abaixo segue link do artigo:


Leitura rápida e bem ilustrada não só para os que trabalham na área mas também para todos aqueles que prezam pela preservação do patrimônio edificado.

Postado por Cristiane Py
*imagens da autora

terça-feira, 6 de abril de 2021

Frase Inspiradora:

 "[...], os edifícios antigos de alvenaria que chegaram aos nossos dias apresentam, em geral, um valor patrimonial elevado, quer em si próprios, enquanto objectos arquitectônicos de interesse, quer enquanto parte de um tecido urbano com valor histórico, que importa preservar. A simples demolição e reconstrução não é, em situações normais, uma opção defensável, quer por questões patrimoniais, quer por questões de sustentabilidade."


João Gomes Ferreira

Diagnósticos nas Alvenarias
Manual de engenharia diagnóstica:
desempenho, manifestações patológicas e perícias na construção civil
2o edição revista e ampliada
pag.240

Postado por Cristiane Py

quarta-feira, 24 de março de 2021

Projeto Clube da Bolsa - vencedor em concurso do CAU-SP


O projeto de restauro que fizemos para o espaço do Antigo Clube da Bolsa localizado no 3o pavimento da Bolsa Oficial do Café - Museu do Café já foi assunto em post desse blog. 

Apresentei também esse projeto no 4o Simpósio Científico do ICOMOS Brasil realizado em novembro do ano passado de forma virtual. Compartilho abaixo o link para acesso do trabalho publicado nos Anais do evento.


E no final do ano passado esse mesmo projeto foi vencedor na Categoria I – Projeto de Conservação e Restauro Arquitetônico, Urbano e Paisagístico do Concurso oferecido pelo CAU-SP para Boas Práticas de Preservação do Patrimônio Cultural.

Abaixo links de acesso ao resultado do concurso e ao trabalho apresentado.



Fiquei muito orgulhosa dos resultados obtidos com esse projeto e não podia deixar de compartilhar aqui com vocês.


Postado por Cristiane Py

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Vocabulário arquitetônico

Desde agosto do ano passado estamos fiscalizando a obra de conservação e manutenção da fachada do Museu do Café, antigo edifício da Bolsa Oficial do Café, em Santos.

A montagem do andaime multi-direcional para a execução da obra permitiu acesso para observarmos de perto vários ornatos e detalhes desse patrimônio cultural construído no começo dos anos 1920 em estilo eclético.

Neste post vamos falar de alguns deles.

Dentículo: Pequeno entalhe em forma de dente com que se ornam certas partes do edifício. Surgia principalmente nas cornijas das ordens coríntia e jônica, mas que, de modo geral, pode aparecer como elemento decorativo mesmo contemporaneamente.*

Dentículo - Fachada Museu do Café

A Visual Dictionary of Architecture
Francis D. K. Ching


Tríglifo: ornamento dos frisos do entablamento dórico formado de três sulcos triangulares profundos.*

Tríglifo - Fachada Museu do Café
(aqui um pouco estilizado)

A Visual Dictionary of Architecture
Francis D. K. Ching

Voluta: Ornato que aparece frequentemente em capitéis de colunas, principalmente no jônico, com forma espiral. O centro da voluta, onde começa a espiral, em geral em forma de pequeno disco, chama-se olho. [...] Voluta chanfrada é aquela em que as circunvoluções estão separadas entre si por um pequeno espaço às vezes decorado.


Voluta e Cathetus - Fachada Museu do Café


A Visual Dictionary of Architecture
Francis D. K. Ching


* Corona & Lemos, Dicionário da Arquitetura Brasileira, Art Show Books Ltda. 2. edição- 1989
** imagens da autora

Postado por Cristiane Py