Qualquer intervenção em um patrimônio cultural edificado deve sempre ser acompanhada de um estudo e por profissionais habilitados, mesmo que a intervenção seja pontual.
Vamos mostrar abaixo um estudo de caso.
Nessa edificação há, no terceiro pavimento, um pátio descoberto cuja a laje apresentava sérios problemas de infiltrações trazendo danos para as salas do pavimento inferior.
Para sanar as infiltrações era necessário refazer a manta de impermeabilização e, para isso, o piso existente deveria ser removido.
O piso era composto na sua maior parte por cimentado, mas possuía nas laterais uma tabeira de pedra ardósia e, ao centro, uma passadeira de ladrilho.
Após pesquisa, foi descoberto que a tabeira em ardósia havia sido instalada em uma intervenção recente realizada já com o intuito de tentar solucionar as infiltrações, mas sem sucesso.
Foi realizado então um parecer técnico acompanhado de um relatório fotográfico para apresentação e aprovação nos órgãos de preservação.
A princípio foi previsto que a passadeira em ladrilho hidráulico fosse removida cuidadosamente, peça por peça, para reinstalação após o refazimento da manta de impermeabilização.
Com o início da obra foi verificado que o ladrilho estava muito aderido à superfície e apenas 10% das peças conseguiram ser removidas sem quebra. Essas peças foram usadas para reposição das soleiras.
A manta de impermeabilização e o contra-piso foram executados conforme o parecer, mas novos estudos foram iniciados para a definição do revestimento a ser instalado.
O ladrilho da passadeira, bem como o desenho das peças, também está presente em diversas outras áreas da edificação e a opção de executar réplicas não se justificava.
A instalação de um piso cerâmico de mercado não se mostrou satisfatória por ser difícil conciliar o diálogo entre a cerâmica nova e o ladrilho antigo existente nas áreas adjacentes.
Após estudos e pesquisas, o material escolhido para o revestimento do pátio foi o fulget em tom cinza.
O piso fulget é um piso feito com pedras moídas e, por ser antiderrapante, ideal para áreas externas. Ele é similar ao granilite, mas por não possuir resina tem um aspecto mais rústico.
A técnica do granilite foi trazida para o Brasil por imigrantes italianos há 50 anos, mas desde o século XVII os ancestrais do granilite e do fulget já eram executados na cidade de Veneza, Itália.
Por ser um piso atemporal, o diálogo entre o piso fulget com os revestimentos originais se fez de forma harmônica mantendo os pisos antigos como protagonistas, mas não deixando de registrar a marca do seu tempo.
Vale ressaltar que antes da execução do piso fulget um parecer complementar foi apresentado para aprovação nos órgãos de preservação.
*imagens da autora
* imagem piso fulget - acesso setembro/21 https://conspem.com.br/
Postado por Cristiane Py
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