segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

O 4o Simpósio Científico do ICOMOS Brasil e 1o Simpósio Científico ICOMOS/LAC

O 4o Simpósio Científico do ICOMOS Brasil e 1o Simpósio Científico ICOMOS/LAC, que aconteceria no mês de maio de 2020 na cidade do Rio de Janeiro, foi realizado no mês de novembro via plataforma on line. 

Durante uma semana foram realizadas palestras, conferências, mesas redondas, apresentações de trabalhos e rodas de conversas onde discutiu-se diversas questões relacionadas ao debate contemporâneo do patrimônio latino americano e sua preservação.

Pensamento Decolonial, direitos humanos, gestão do patrimônio e patrimônio e crise (COVID) foram os mais debatidos.

Vou aproveitar o espaço do blog para falar então um pouco sobre Pensamento Decolonial, tão em voga no Simpósio. Aliás, melhor do que escrever, vou compartilhar com vocês dois vídeos aonde a Profa. Rachel Cecília de Oliveira nos explica de forma bem didática o que é o pensamento decolonial e as diferenças entre descolonial e decolonial.

https://www.youtube.com/watch?v=RpEY_aJgYUI

https://www.youtube.com/watch?v=G2HcBCN7yGI



Para ver informações sobre o trabalho apresentado no Simpósio, acesse o link abaixo:


Postado por Cristiane Py

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Frase Inspiradora:

" Vimos igualmente que na maior parte das vezes não estávamos dele [patrimônio] conscientes, porque a educação que recebemos elimina a sua maior parte em nome de critérios acadêmicos e estéticos. Isso porque a sociedade de consumo da qual fazemos parte imprime em nós ideias de valor de mercado, propõe modelos estrangeiros à nossa cultura viva, que assim é desvalorizada. Enfim, porque a existência de administrações culturais em todos os níveis e de instituições culturais poderosas nos convence de que a cultura é alguma coisa à qual se necessita "ter acesso", e não alguma coisa que é nossa, está em nós e em torno de nós."

Hugues de Varine
As raízes do futuro: o patrimônio a serviço do desenvolvimento local.
pag. 43

Postado por Cristiane Py

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Frase Inspiradora:

"Esse reconhecimento não é apenas um resultado racional da investigação historiográfica ou crítica de valores formais, mas de uma percepção sensível, de um diálogo silencioso, de uma compreensão e de um respeito mudo pelo que a obra deseja falar e não apenas do que desejamos falar através dela."


Kruchin, Samuel
Kruchin, uma poética da história: obra de restauro
pag. 21

Postado por Cristiane Py

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Segue a Dica: Dicionário Corona & Lemos e o Manual Prático do Gestor de Restauro

Ontem passei o dia analisando um memorial descritivo de um projeto de restauro para uma fachada dos anos 1920 em estilo eclético.

Com esse trabalho tive a confirmação que conhecer os termos da nossa arquitetura é imprescindível para a realização de um bom projeto de restauro e para a execução da obra. Todos os envolvidos, sejam eles arquitetos, engenheiros, estagiários ou encarregados, devem conhecer essa nomenclatura.

Confesso que não sabia exatamente o que alguns termos significavam, por isso sempre tenho a tira colo o livro Dicionário da Arquitetura Brasileira dos autores Corona e Lemos e o Manual Prático que os alunos do curso de Gestão e Prática de Obras de Conservação e Restauro do Patrimônio Cultural Edificado produzem durante o curso do Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI.

O dicionário, publicado inicialmente em fascículos pela revista Acrópole, teve sua primeira edição no início dos anos 1970 e foi esgotado em poucos meses. A boa notícia é que o livro foi reeditado em 2017, podendo ser adquirido mais facilmente e por melhor preço.

Fica aqui a dica!

Dicionário da Arquitetura Brasileira
Dicionário da Arquitetura Brasileira
Manual Prático - CECI
Manual Prático - CECI
Manual Prático - CECI
Manual Prático - CECI
Manual Prático - CECI
Manual Prático - CECI
Manual Prático - CECI

*imagens da autora
Postado por Cristiane Py


terça-feira, 30 de junho de 2020

Os locais de rememoração em Soweto - Memorial e Museu Hector Pieterson

Alguns locais de rememoração na cidade de Soweto na África do Sul abrigam hoje memoriais e museus que nos contam um pouco da história da África do Sul nos tempos do Apartheid (regime de segregação racial que perdurou de 1948 até 1994).

Soweto foi uma região estabelecida em 1963 para abrigar a população negra, pois as leis do Apartheid não permitiam que negros morassem em áreas reservadas para brancos. 

Foco de resistência anti-racista a região presenciou vários confrontos entre moradores e polícia.

Em 1976, durante uma passeata de estudantes que reivindicavam melhores condições educacionais e contra algumas medidas tomadas pelo governo em relação às escolas das crianças negras, ocorreu um confronto com a polícia que ficou conhecido mundialmente como o Levante do Soweto, aonde dezenas (algumas estatísticas calculam centenas) de jovens foram mortos. Hector Pieterson de 13 anos foi uma das crianças baleadas e mortas.

Atualmente próximo ao local do Levante encontramos o Memorial e Museu Hector Pieterson.


"O Memorial e Museu Hector Pieterson é dedicado para preservar a memória do Levante do Soweto de 1976. O museu abriga uma coleção de testemunhos orais, fotografias, audios visuais e documentos históricos."

UNESCO
tradução livre da autora


Memorial Hector Pieterson. A esquerda imagem publicada mundialmente na época do confronto que se tornou a imagem do confronto. Hector Pieterson sendo carregado por outro jovem e sua irmã.
A esquerda da imagem temos a foto publicada mundialmente na época do Levante.
Hector sendo carregado por outro jovem e sua irmã ao lado.

Memorial Hector Pieterson 

Memorial Hector Pieterson 






*imagens da autora

Postado por Cristiane Py
 


segunda-feira, 1 de junho de 2020

Frase Inspiradora:

"Lidar com o passado pressupõe, em termos físicos, arquitetônicos, trazer o passado para o presente."

Casa Mario de Andrade
Habitação e modos de morar dos paulistanos do Século XX
Curso on line ministrado pelo Prof. Fernando Atique pela plataforma google meet em maio de 2020


Postado por Cristiane Py

segunda-feira, 25 de maio de 2020

O Navio de Teseu sobre o olhar dos pensadores da restauração

Durante o curso de Gestão e Prática de Obras de Conservação e Restauro do Patrimônio Cultural Edificado do Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI  foi aberto um fórum de debate sobre a Lenda do Navio de Teseu.

Essa lenda há séculos gera discussões filosóficas por causa do seu paradoxo. 

Vamos tentar adaptar e resumir a história sobre o ponto de vista da restauração.

O navio de Teseu sempre que chegava ao porto passava por manutenção tendo algumas peças trocadas. As pecas removidas eram guardadas. Após algum tempo, todas as peças do navio já tinham sido substituídas. Foi então que decidiram montar um outro navio com as peças que haviam sido removidas.

Foram feitas então as seguintes perguntas no Fórum:

1 - Qual dos dois navios é o navio de Teseu? 

2 - Qual é o navio autêntico?

Para responder essas perguntas fiz uma rápida análise considerando o olhar de alguns pensadores da restauração. Compartilho aqui com vocês.

Para o teórico inglês John Ruskin, o navio reconstruído dos fragmentos e pregos deteriorados seria o navio verdadeiro de Teseu. Segundo Ruskin:

“... não se importe com a má aparência dos reforços: é melhor uma muleta do que um membro perdido [...]. Seu dia fatal por fim chegará; mas que chegue declarada e abertamente, e que nenhum substituto desonroso e falso prive o monumento das honras fúnebres da memória”.

Mas analisando pela teoria antagônica de Le duc, o navio verdadeiro seria o novo. Para o arquiteto francês a importância de manter o uso do patrimônio era uma das principais premissas da sua teoria. Vejam abaixo.

“...Nas restaurações, há uma condição dominante que se deve ter sempre em mente. É a de substituir toda parte retirada somente por materiais melhores e por meios mais eficazes ou mais perfeitos.”

Caminhando no tempo chegamos em Alois Riegl. O historiador e estudioso austríaco nomeou valores para o patrimônio. São eles:

- Valor de memória (valor de antiguidade e valor histórico) 
- Valor de atualidade (valor de uso e valor de novidade) 

Vejam que os valores nomeados por Riegl não estão presentes em apenas um navio, mas nos dois, entãopara Riegl, os dois navios são importantes para a análise da questão. O que poderá determinar a escolha de qual navio é o autêntico será o olhar no momento da análise respeitando o Kunstwollen da época. Seguindo a teoria de Riegl, nenhum dos navios poderiam ser descartados pois a opção escolhida poderá não ser a mesma nas gerações futuras.

Já nas teorias contemporâneas e analisando pelo olhar de Salvador Muñoz Viñas, temos:

“Uma boa restauração (intervenção) é a que satisfaz o maior número de sensibilidades.”

Seguindo esse olhar nos fazemos as perguntas:

Qual navio satisfaz o maior número de sensibilidades?
O reconstruído satisfaz as sensibilidades daqueles que preservaram as peças e reconstruíram o barco, daqueles que não mais navegam?
O novo satisfaz as sensibilidades daqueles que continuam ou sonham em navegar?
Qual sensibilidade pesa mais na balança?

Depois dessa breve análise cheguei a seguinte conclusão:

O navio reconstruído dos fragmentos simboliza as aventuras que Teseu enfrentou, mas o novo navio permite que o herói continue sua saga. Os dois navios são os verdadeiros. 

Mais interessante ainda é que com Teseu continuando suas viagens, o navio continuará tendo peças trocadas e outros navios poderão ser reconstruídos. Teremos, além do navio que navega, mais um, dois , três ... navios reconstruídos, todos eles representando um determinado momento da história de Teseu ou seja, descartar um significa apagar determinado período da sua história.

Os navios ficam fora de contexto se os analisarmos separadamente, pois um complementa o outro. Um navio apenas não conta a história completa do Mito. Precisamos de todos os navios. 

Respondendo então às questões:

1- Os dois navios pertencem a Teseu. O navio da memória e o navio do herói.
2- A leitura dos dois navios juntos é que dá a autenticidade à figura simbólica do mito. Se descartamos um, indiferente de qual, corremos o risco de perder parte de sua história e consequentemente o mito.

* imagens da web - acesso em maio 2020

Postado por Cristiane Py

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Yang's School Area - Um projeto de restauro

O vilarejo rural Shangping, localizado na província de Fujian-China e conhecido como aldeia literária cercada por água,  ainda segue os conceitos tradicionais da cultura chinesa. 

Com um amplo projeto de preservação, desenvolvido pelo escritório de arquitetura 3andwich Design / He Wei Studio que englobou não só a restauração de diversas edificações abandonadas de uso agrícola mas também o desenvolvimento de um plano de gestão, esse vilarejo, patrimônio cultural, é hoje um moderno espaço público que atende moradores e visitantes.

A Yang's School Area faz parte desse amplo projeto. Localizada no encontro de dois curso d'agua e em um antigo estábulo/depósito, essa "biblioteca/livraria"  compartilha o saber do vilarejo com os visitantes e o saber de fora com as crianças locais.

O projeto de restauro e revitalização tirou partido da antiga edificação, antes destinada a estábulo e depósito, para criar espaços lúdicos de leitura. 

Abaixo algumas imagens desse projeto e links com mais informações.







Imagens da web - acesso em maio de 2020
Links: 

Postado por Cristiane Py

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Frase Inspiradora:

"Saber ler a gramática da Arquitetura, o conteúdo dos sistemas, técnicas, materiais construtivos e as expressões do tempo é atributo fundamental para garantir a autenticidade e integridade da edificação antiga."

Modelagem de composições de preços para a conservação e o restauro
Curso Gestão de Restauro do Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI
Aula on line ministrada pelo Prof. Jorge Eduardo Lucena Tinoco pela plataforma zoom em 05/05/2020

Postado por Cristiane Py

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Curiosidade: Uma London Bridge no Arizona EUA.

Já discutimos aqui no blog sobre edificações ou fragmentos que são removidos de seu local de origem e reerguidos em outra ambiência. No post Os fragmentos da história desde o séc. XVIII se espalhando pelo mundo citamos vários exemplos. Vale a pena reler! É só clicar no link.

Neste post vamos falar de mais um exemplo. Durante minha leitura do livro Delirious New York me deparei com a história de uma London Bridge desmontada, transportada e reconstruída no outro lado do mundo, no Lago Havasu, Arizona, Estados Unidos da América. 

A ponte, originalmente construída nos anos 1830 sobre o rio Thames com pedras vindas da Escócia, foi desmontada e vendida pela City of London em 1962 para, no seu lugar, se construir uma nova ponte com o objetivo de atender à demanda de transeuntes.

Desmontada e numerada pedra por pedra, a ponte atravessou o oceano e chegou no Arizona - EUA. 

Para sua reconstrução, em uma cidade planejada, foi executada uma nova estrutura de concreto sobre a terra pois o canal artificial só foi construído depois. Esse trabalho durou 03 anos e foi finalizado em 1971.

Abaixo algumas fotos e um link bem interessante contando esse fato com mais detalhes.

A ponte, construída nos anos 1830, sobre o rio Thames - Londres, Inglaterra.
O desmonte 130 anos depois - Inglaterra.
A numeração das peças para a reconstrução - Inglaterra.
A nova ponte sobre o rio Thames, no mesmo local da anterior, para atender a demanda de transeuntes.
Inaugurada em 1971 - Inglaterra.
O desembarque nos EUA.
Estrutura nova de concreto construída sobre a terra no Arizona, EUA.
A ponte reconstruida e o canal artificial - Arizona, EUA.
Uma London Bridge no Arizona!
* imagens da web - acesso em abril 2020.

Referências:
- Delirious New York - A Retroactive Manifesto for Manhattan - Rem Koolhass (tem tradução em português)
- Wikipédia.
https://www.bbc.co.uk/news/resources/idt-sh/the_bridge_that_crossed_an_ocean

Postado por Cristiane Py

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Projeto Antigo Clube da Bolsa - Museu do Café

O Projeto de Conservação e Reforma Simplificada para Acessibilidade do Antigo Clube da Bolsa foi desenvolvido de forma a atender a solicitação do Instituto de Preservação e Difusão da História do Café e da Imigração - INCI em reativar um espaço de convívio e lazer no Museu do Café.

Localizado no terceiro pavimento da Bolsa Oficial do Café em Santos (1922), o Clube da Bolsa, instalado em 1924, ali permaneceu até o fim dos anos 1970, quando o edifício foi desocupado para reformas. 

Em 1998, após ampla obra de restauro, a edificação passa a abrigar o Museu do Café, mas a área ocupada pelo Clube da Bolsa permanece como espaço de escritórios da Secretaria da Fazenda. Em 2006, a área é repassada para a Secretaria da Cultura e em 2019, o INCI começa a planejar a abertura do local ao público como espaço de lazer e convívio social.

O projeto contemplou não só as diretrizes e metodologias para a conservação e preservação do espaço e bens integrados como também um estudo de viabilidade técnica para acessibilidade e climatização.
Escada de acesso para o Hall Principal,  saindo do Hall do Elevador. Para preservar o Hall Principal com seus valores estéticos, históricos e simbólicos, foi elaborado, para o acesso de pessoas com necessidades especias, um estudo de viabilidade técnica-financeira para o acréscimo de uma parada do elevador no Patamar da Escada que se encontra em nível com os demais ambientes. 
Patamar da Escada que se encontra em nível com os demais ambientes. Estudo de viabilidade técnica-financeira para acréscimo de parada do elevador de forma a manter a estética do espaço patrimônio cultural e permitir o acesso universal.


Estudo de acessibilidade



Estudo de acessibilidade
Salão do Restaurante - Reparem no piso em madeira com desenhos geométricos e no forro de estuque abobadado com simulação de vigas de madeira.


Para a climatização do ambiente foi proposto o sistema de dutos externos pela fachada do pátio de serviço e grelhas em substituição aos vidros superiores para a troca de ar. Tanto dutos como máquinas serão instalados nos pátios internos de serviço de forma a preservar a fachada em estilo eclético.


Parte dos lambris decorativos do salão se encontram com patologias e lacunas. Foi desenvolvido não só o mapa de danos de todas as áreas a serem preservadas, como também o diagnóstico e consultoria com profissionais habilitados.


Detalhe do mapa de danos dos lambris de madeira. Também foi desenvolvido o mapa de danos do piso de madeira e do forro de estuque bem como um memorial descritivo de danos e diagnósticos.


Para os sanitários, que já se encontravam com alterações significativas para justificar sua preservação, foi proposto um novo layout para atender as normas de acessibilidade brasileira (ABNT NBR 9050 2015). Para esse estudo foi mantida não só a simetria do projeto existente como também as esquadrias de madeira originais.



Projeto: Conservação e Reforma Simplificada para Acessibilidade do Antigo Clube da Bolsa.
Arquiteta responsável: Cristiane Py.
Autoras do projeto: Arq. Cristiane Py e Arq. Mariana Rillo.
Consultoria estrutural: Eng. Pedro Py e Veirano Associados.
Consultoria de elevadores: Basic Elevadores.
Consultoria de climatização: BR-AR Sistemas de Ar Condicionado Ltda. EPP.
Consultoria restauro de madeira: Antonio Carlos Barbosa.
Consultoria artesão de madeira: Reginaldo Marculino da Silva
Imagens e Ilustrações:  Py Vieira Arquitetura e Eventos Ltda.


Postado por Cristiane Py