sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Restauro com manutenção do uso original

No post Antigas edificações industriais, hoje revertidas em espaços de arte falamos da mudança de uso em espaços fabris. Podemos citar também a Fábrica Companhia Melhoramentos, revertida em espaço multiuso e aberta para a comunidade, ou o SESC Pompéia, projeto da arquiteta Lina Bo Bardi que também ocupou um antigo espaço fabril.

O uso do patrimônio cultural edificado é uma das principais diretrizes para a manutenção do bem cultural e, como vimos nos exemplos acima, a sua mudança (residencial para comercial; residencial para serviço hoteleiro; industrial para cultural) é possivel se o projeto respeitar as metodologias adotadas pela disciplina do restauro.

Neste post também vamos falar de um projeto de restauro de um espaço fabril que achei interessante por ter mantido o uso original: A Bodega Trapiche em Mendoza na Argentina.

Segundo informações da guia que me acompanhou na visita ao local, a Bodega, fundada em 1883, teve sua sede em estilo arquitetônico florentino construída em 1912 e sua produção atendia praticamente todo o consumo de vinhos da Argentina nessa época. Como veremos nas fotos, a vinícola tinha acesso direto para a ferrovia, as uvas chegavam e a produção era escoada por trens e todo o equipamento da vinícola funcionava a vapor.

Por volta dos anos 1940 uma forte crise no país deixou a adega abandonada mas atualmente, depois do restauro, ela retomou a produção vinícola.

O mais interessante do projeto é que, apesar de ter sido realizada a modernização dos equipamentos e meio de transporte, o projeto de restauro manteve as antigas instalações não mais utilizadas no processo fabril como memória para as futuras gerações. Parte dos equipamentos continuam em uso e parte das edificações foram mantidas em ruínas assim como novas construções também foram executadas.

Abaixo seguem fotos com mais detalhes

Vista da sede construida em 1912 em estilo florentino e restaurada.
Ao fundo vemos a chaminé utilizada na época em que se usava o vapor para a produção.
Nesta foto vemos os trilhos de trem. A adega tinha acesso direto para a ferrovia.
Atualmente o transporte é feito por caminhões mas o antigo ramal foi mantido como memória
Equipamentos originais movidos a vapor foram mantidos como memória .
Equipamentos originais
Equipamentos originais
Piso de taco de madeira restaurado
Infraestrutura original que ainda é utilizada no processo da fabricação de vinhos
Ruína da antiga residência do administrador. 
Contenções em concreto foram executadas na intervenção de restauro
Detalhe construtivo remanescente da residência do administrador
Detalhe da técnica construtiva das paredes internas da casa do administrador.  
Nesta imagem vemos uma construção contemporânea para a boutique de vendas de vinho. Com a manutenção do uso essa Boutique se faz pertinente (ao contrário das já tradicionais  "lojinhas" para venda de souvenirs nas saídas de museus e pontos turísticos tão questionadas por Françoise Choay)
Entre as antigas edificações vemos as novas instalações com técnicas modernizadas.
*imagens da autora
**informações fornecidas no dia da visita pela guia local

Postado por Cristiane Py

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

A Importância do Patrimônio Regional

Em 1937 foi promulgado no Brasil o Decreto-lei 25 que criou o SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), órgão federal que atualmente recebe o nome de IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), voltado para a preservação e reconhecimento do Patrimônio Cultural Nacional.

No decorrer das décadas, em função da extensão territorial e diversidade cultural de nosso país, viu-se a necessidade de também se criar órgãos de preservação voltados para o patrimônio regional. O Compromisso de Brasília de 1970, documento originado de um encontro entre governadores e prefeitos, foi redigido visando a criação de órgãos de preservação estaduais e municipais.

No Estado de São Paulo temos o CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) e na capital o CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo).

Achei importante iniciar esse post com essa pequena introdução pois hoje vamos falar de um Patrimônio Edificado da cidade de São Paulo tombado pelo CONPRESP em 2009: a Fábrica Companhia Melhoramentos localizada no bairro da Vila Romana.

Inaugurada em 1948, a Fábrica Companhia Melhoramentos com arquitetura industrial marcante abrigava, além do escritório,  parte da gráfica e refeitório para os funcionários.

Em 2009 o CONPRESP, através da Resolução no 5, tomba vários imóveis do bairro da Lapa pela  fundamental importância na formação do bairro que, inicialmente, era fabril. Igrejas, sobrados residenciais, o SESC Pompéia e diversos galpões industriais são hoje reconhecidos como Patrimônio Histórico e Cultural da cidade de São Paulo e, entre eles, temos a Fábrica Companhia Melhoramentos.

Essa antiga edificação fabril passou por uma obra de revitalização e restauro neste ano e hoje abriga a  Casa Melhoramentos, espaço aberto para a comunidade. A fábrica, que ocupava um quarteirão do bairro da Vila Romana,  teve parte dos galpões demolidos para construção da iniciativa privada voltada para o uso residencial, uso que hoje é o mais presente no bairro.

Abaixo seguem fotos do dia do evento de inauguração desse novo espaço de memória da cidade de São Paulo.

Foto da Fachada restaurada com iluminação cênica
Detalhe da porta de entrada
Foto de 1948 (ano de inauguração). Observamos aqui que a base das fachadas é revestida em granito rústico, característica arquitetônica muito comum em edificações fabris e também residenciais da região. (imagem do catálogo entregue aos convidados no dia do evento)

Foto da fachada depois da obra de restauro e revitalização - 2018 - Projeto do escritório Studio Guilherme Torres
Foto do andar térreo mostrando o átrio ajardinado com iluminação zenital
No térreo também temos uma grande área expositiva dedicada à memória da empresa. Nesta foto imagem do jogo O Pequeno Arquiteto
Tijolos e telhas fabricados na Fábrica de Caieiras na década de 1910
Foto aérea mostrando a ocupação de um quarteirão pela fábrica na época em que o uso industrial era o mais comum na Vila Romana
Notas impressas pela Companhia Melhoramentos na Revolução de 1932
Cobertura restaurada da área de exposição que ocupa o último andar do prédio
Exposição Planetas do Ziraldo que inaugurou o espaço de exposição.
*imagens da autora
Postado por Cristiane Py