Incêndio Museu da Língua Portuguesa - SP - 2015 |
Na semana passada aconteceu em São Paulo o Seminário Internacional de Segurança Contra Incêndios em Edificações de Interesse Histórico realizado pela FUNDABOM - Fundação de Apoio ao Corpo de Bombeiros da PMSP.
O seminário abordou importantes questões para a preservação do patrimônio edificado em um momento que nos deparamos com vários casos recentes de incêndios. Só em São Paulo podemos citar: o auditório do Memorial da América Latina; o incêndio no Instituto Butantã (com a perda de um dos maiores acervos biológicos do mundo) e o Museu da Língua Portuguesa.
Incêndio Instituto Butantã - SP - 2010 |
Vamos falar de algumas questões que foram debatidas:
- IT40 - Instrução Técnica 40 do Corpo de Bombeiros de São Paulo. Voltada para a segurança contra incêndio às edificações históricas e de interesse do patrimônio histórico-cultural, a IT 40 de 2011 está sendo revisada, sendo um dos objetivos do seminário a elaboração de um documento de referência que auxilie esta revisão.
- O Incêndio do Museu da Língua Portuguesa - SP - Após análise dos vídeos, vistorias e laudos, foi verificado que o foco do incêndio aconteceu na área da exposição temporária. Verificou-se que a cenografia, com muitos livros, madeiras e tecidos, aumentou a carga de incêndio prevista para um museu. A alta carga de incêndio do local (tecidos, papéis, madeiras) estava incompatível com a baixa carga considerada no projeto. A parte elétrica também foi alterada para atender a exposição, aumentando a carga da iluminação do ambiente. A falta de compartimentação na edificação ajudou a rápida propagação do fogo.
Conclusão: será proposto, na revisão da IT40, que exposições temporárias deverão ter os projetos aprovados pelo corpo de bombeiros e avaliados caso a caso e, se necessário, deverá ser previsto um complemento da segurança de acordo com a carga de incêndio prevista, o uso e a quantidade de público. O controle de material (ignifugantes) no uso de exposições temporárias também será proposto.
Incêndio Memorial da America Latina - SP - 2013 |
Incêndio Memorial da America Latina - SP - 2013 |
- O Incêndio no auditório do Memorial da America Latina - SP - O foco do incêndio foi confinado em uma área técnica de difícil acesso, localizada entre a cobertura e o forro. Os bombeiros chegaram ao local com menos de 5 minutos do chamado. O projeto de arquitetura, que não previa um escoamento da fumaça, fez a edificação se tornar, nas palavras do 1o tenente Alexandre Proença, um forno de concreto com forro de madeira, dificultando o trabalho dos bombeiros. A quebra dos vidros das janelas para escoamento da fumaça foi a primeira atitude a ser tomada, mas uma forte explosão fez com que todos tivessem que se retirar do local.
Incêndio em Casarão Histórico da cidade de Iguape - SP - 2017 |
- As cidades históricas - Muitas cidades patrimônio cultural não possuem corpo de bombeiros. No caso da cidade de Iguape, o corpo de bombeiros se localiza na cidade vizinha de Ilha Comprida.
- Atualmente os projetos em edificações tombadas são primeiramente aprovados nos órgãos de preservação (municipal, estadual e federal) para depois serem aprovados pelo corpo de bombeiros. A sugestão é inverter a ordem de aprovações, sendo o corpo de bombeiros o primeiro a avaliar o projeto. Essa sugestão foi proposta por profissionais que trabalham como técnicos dos órgãos de preservação.
- Construções em taipa e adobe foi outro assunto discutido em função da inviabilidade de sistemas de hidrante embutidos nas alvenarias, bem como a água poder causar tanto dano na edificação quanto o fogo. A sugestão foi o uso de coluna seca e externa e extintor com gás inerte ou névoa de água.
- A comissão técnica do corpo de bombeiros está aberta para análise dos argumentos que proponham um projeto de intervenção em um patrimônio edificado que fuja às regras gerais, tendo consciência que no caso do Patrimônio Cultural nem sempre as regras poderão ser seguidas. A avaliação caso a caso também é adotada para projetos novos e reformas. No caso do SESC 24 de maio em São Paulo, a não compartimentação vertical foi compensada por projeto de sprinkler adicional na área da rampa que atende a todos os pavimentos.
- Todos os palestrantes (nacionais e internacionais) comentaram que é durante as obras que a edificação patrimônio cultural fica mais vulnerável a incêndios. Foi citado o caso do incêndio do Castelo de Windsor em 1992 e do Templo Horyu no Japão em 1949, neste último com a perda de um afresco.
Incêndio Castelo de Windsor durante as obras, Inglaterra - 1992 |
- No caso de acervos de bibliotecas, recomenda-se o uso de névoa e não de água ou o sistema que reduz o oxigênio com a substituição por nitrogênio que permite a respiração dos ocupantes. No caso de documentos molhados, estes devem ser congelados para melhor preservação.
- No Museu do Louvre não há brigada de incêndio, mas sim um corpo de bombeiros próprio.
- O Reino Unido já adotou, desde 2006, a fiscalização pelo corpo de bombeiros nas edificações. Mudança cultural que está dando resultado para a diminuição de sinistros.
Sistema de combate à incêndio - Shirakawa-go, Japão |
- A preocupação em evitar incêndios não deve ser focada só no patrimônio mas também no seu entorno, principalmente nas cidades antigas onde as edificações são coladas uma nas outras. No Japão é adotado o sistema Drescher, que podemos explicar como um chuveiro dilúvio (ver imagem acima).
- Para finalizar devemos ter consciência que tão importante quanto o AVCB é a gestão das edificações. A manutenção cotidiana e o controle dos circuitos elétricos, da prática de fumar, dos trabalhos a quente e das alterações de layout ou de uso, bem como treinamentos e simulados, são fundamentais para a diminuição de sinistros.
*imagens da WEB - acesso em outubro-2017
Postado por Cristiane Py