sábado, 28 de agosto de 2021

Segue a dica: Proteção e revitalização do patrimônio cultural no Brasil.

Neste blog, frequentemente abordo a importância do estudo aprofundado da história, pois compreender o passado é fundamental para interpretar o presente e projetar o futuro. No contexto das intervenções em patrimônio cultural, a pesquisa sobre o histórico do bem, bem como sua relação atual com a comunidade, é essencial para fundamentar diretrizes precisas de restauro.

Entretanto, também é necessário compreender a história da própria preservação patrimonial. Trata-se de entender o desenvolvimento das políticas de proteção ao patrimônio — a evolução das leis, decretos, instituições e programas que, ao longo das décadas, estabeleceram diretrizes para a preservação cultural.

Para aqueles que desejam se aprofundar no tema, indico três leituras essenciais:

  1. 'Livro Amarelo': Este volume documenta os primeiros projetos de lei dos anos 1920 até o início dos anos 1980, traçando a evolução legislativa e institucional da preservação no Brasil.

  2. Coletânea de Aloísio Magalhães: Esta seleção de artigos, escritos e discursos de Aloísio Magalhães destaca as contribuições desse pioneiro, que nos anos 1970 e 1980 revitalizou valores do anteprojeto de Mário de Andrade (1936), contribuindo para o desenvolvimento da política patrimonial brasileira.

  3. Obra de Françoise Choay: Neste estudo, a historiadora francesa explora a trajetória do conceito de patrimônio, desde o monumento antigo até a era da indústria cultural, oferecendo uma visão crítica e histórica no contexto europeu.

Essas leituras são fundamentais para compreender não apenas a história dos bens culturais, mas também a evolução da consciência e das práticas de preservação patrimonial.


*imagens da autora

Postado por Cristiane Py

domingo, 22 de agosto de 2021

Frase inspiradora:

 "[...] uma nação não se constrói apenas com a preservação das suas representações mais monumentais, no sentido de obras de arte, no sentido de acabamento intelectual e no sentido de formas expressivas e elitistas do fazer do homem neste contexto. Uma nação se constrói à base da soma dos gestos, dos comportamentos, das atitudes, dos feitos, das realizações que envolvem todos os seres na integração com o espaço que lhe é destinado, espaço físico, o espaço do qual ele é dono, tutor e ao mesmo tempo responsável."


Aloisio Magalhães

Bens culturais no Brasil: um desenho projetivo para a nação

pag. 320

sábado, 14 de agosto de 2021

O Caso das Cremonas

No post Revista Restauro - No canteiro da obra no antigo edifício da Bolsa Oficial do Café - Museu do Café - Santos/SP compartilhei um pouco da experiência de fiscalizar uma obra de conservação e restauro.

Várias foram as adversidades encontradas no caminho, cito algumas delas no artigo, e hoje vou compartilhar com vocês o caso das cremonas que aconteceu na vistoria de entrega provisória.

Para quem não sabe, segue a definição dada pelo Dicionário da Arquitetura Brasileira Corona & Lemos:

CREMONA - Ver CARMONA

CARMONA - Ferrôlho que, colocado em tôda a altura de uma janela ou uma porta se aloja a um só tempo em cima e em baixo. A palavra dêste verbête é um galicismo que provêm de "cremone", e daí a existência entre nós, também, da forma CREMONA (sic)

mas vamos simplificar colocando também a definição dada pelo dicionário on-line de português:


No Salão do Pregão da edificação há 5 portas de madeira com vidros coloridos e cremonas ricamente ornamentadas. Vejam a foto abaixo.



Essas portas passaram por processos de higienização, conservação e restauro, incluindo suas ferragens (entre elas as cremonas).

02 portas não possuíam mais as cremonas originais que foram perdidas no tempo. Para o bom funcionamento dessas esquadrias fazia-se necessário repor as cremonas.

Nem o memorial e nem o projeto de arquitetura especificava qual modelo ou a forma de reposição dessas peças. A equipe de obra então seguiu a metodologia de não fazer uma réplica das peças históricas e instalou peças contemporâneas.

Aí começou o Caso das Cremonas.

Vejam abaixo foto da cremona original e, ao lado, a foto da cremona  instalada pela equipe de obra.


A justificativa pela equipe de obra em não fazer uma réplica para evitar um falso histórico era sim muito pertinente, mas a cremona não foi aceita pela minha fiscalização.

Minha justificativa foi que poderiam ser usadas peças atuais para substituição, mas elas deveriam seguir o mesmo padrão que as originais. Ou seja, não há problema em substituirmos peças faltantes por peças novas, desde que as novas peças dialoguem e harmonizem com as peças pré-existentes.

O modelo da peça instalada pela equipe de obra era visualmente inferior às cremonas originais.

Posso dizer que a discussão foi longa e acalorada, sempre é assim nas obras de restauro quando existem pontos de vistas diferentes entre os integrantes das equipes, mas, no fim, a equipe de obra se comprometeu a pesquisar e encontrar uma cremona compatível com o bem patrimônio cultural.

Vejam abaixo a cremona, facilmente encontrada no mercado, que, apesar de ser uma peça contemporânea, dialoga e se harmoniza com as peças pré-existentes e a edificação patrimônio cultural.


O Caso Cremona é uma situação muito comum em obras de restauro mas para evitar esse tipo de conflito seguem algumas dicas:

- Para o arquiteto: fazer um projeto de restauro bem detalhado e com especificações completas.

- Para o executor da obra: caso haja itens em abertos no memorial ou no projeto sempre questionar o projetista e ou a fiscalização antes de tomar um decisão. Vale lembrar que a interdisciplinaridade no restauro é fundamental.

- Para o fiscal: seja sempre aberto ao diálogo. Nesses momentos o que vale mais é a troca de idéias e não  a imposição de valores.

*imagens do acervo da autora
Postado por Cristiane Py