Em posts anteriores, já falamos sobre os valores que transformam um bem em patrimônio cultural. Sabemos que eles vão além do histórico e estético, abrangendo também aspectos cognitivos, formais, afetivos, pragmáticos, éticos e simbólicos. Para compreendê-los plenamente, é essencial não apenas conhecer a história, mas também situar o bem em sua época, acompanhar sua trajetória ao longo do tempo e entender as particularidades que conferem seus valores únicos.
Diversos livros de autores renomados exploram essas questões e nos ajudam a aprofundar essa compreensão. Um exemplo clássico é História da Arte como História da Cidade, de G.C. Argan. Apesar de ser uma leitura desafiadora — li três vezes, fiz fichamentos e ainda sinto a necessidade de revisitá-lo —, a obra oferece uma visão rica e detalhada sobre como a arte se relaciona com a evolução das cidades.
Por outro lado, Leonardo da Vinci, de Walter Isaacson, apresenta uma leitura mais leve e envolvente. O autor, também responsável pela biografia de Steve Jobs, narra com maestria a vida de Leonardo, desde o nascimento até sua morte, oferecendo um retrato completo do artista renascentista.
O grande mérito do livro está no olhar humano e acessível que Isaacson lança sobre Leonardo. Ele nos ajuda a entender por que o artista é considerado um dos maiores do Renascimento (se não o maior) e por que obras como Mona Lisa, A Última Ceia e São João Batista são tidas como verdadeiras obras-primas.
Além disso, o livro mergulha na rotina de trabalho de Leonardo, seus sonhos, expectativas e vida pessoal, ao mesmo tempo que apresenta um retrato fascinante do contexto renascentista. A leitura me inspirou a refletir sobre como a invenção da imprensa naquela época democratizou o conhecimento, algo que considero análogo ao impacto da internet em nossos tempos.
Fica aqui a dica de leitura! E, claro, vou adorar saber suas impressões depois que mergulhar nessas páginas.
O livro é bom, mas senti falta de uma pegada historiográfica mais qualificada.
ResponderExcluirExemplo: a instabilidade dos trabalhos de Da Vinci está muito mais associada à estrutura sócio-econômica e política da península itálica, baseada em Cidades-Estado muito independentes e em “tempos históricos” díspares (logo, contratos de trabalho muito inseguros e instáveis), do que propriamente no “gênio indomável” do artista.
Aliás, minha visão é que Leonardo era mais suor e menos intelecto do que tanto se prega. Era um “anotador” compulsivo e certamente um livre pensador. Isso facilita muito a alimentação do mito. Sorte não ter vivido 150 anos depois. Teria sido queimado na Inquisição.