quinta-feira, 5 de maio de 2016

Habitação como Patrimônio Cultural


Em 28 e 29 de abril foi realizado o seminário Habitação como Patrimônio Cultural, organizado pelo CPC - Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo.

Vários temas foram discutidos, entre eles:

- a preservação das técnicas construtivas;
- museus-casas e casas-museus - a alma da morada;
- morar no patrimônio  - com depoimentos de moradores de residências tombadas - desde antigas vilas operárias até as casas modernistas de alto padrão;
- projetos de intervenção - Casa Olga Baeta e Museu da Diversidade Sexual (este último localizado no casarão 1919 na Av. Paulista em SP);
- mercado imobiliário x bens tombados;
- requalificação de edifícios abandonados para moradia social;
- reflexão sobre os bairros-jardins;
- habitação vernácula, uma problemática;
- como preservar o valor cultural da Habitação?;
- habitação e urbanidade - os limites da cidade compacta.

Professores/doutores, arquitetos especialistas, representantes dos órgãos de preservação (municipal, estadual e federal), moradores de bens tombados e convidados estrangeiros participaram das mesas de debates aberta às perguntas da platéia.

Vale lembrar que no início dos pensamentos preservacionistas  (final do séc. XVIII na Europa e começo do séc. XX no Brasil) apenas as edificações excepcionais eram reconhecidas como Patrimônio Histórico.

O reconhecimento da morada do homem comum como Bem Cultural só começou a ser discutido de forma mais contundente na Carta de Veneza de 1964:

Artigo 1o - A noção de monumento histórico compreende a criação arquitetônica isolada, bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. estende-se não só às grandes criações, mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, uma significação cultural.

Espera-se que além das discussões da habitação como Patrimônio Cultural as moradas como a de Gabriel Joaquim dos Santos (1892-1985), filho de uma índia e de um ex escravo e alfabetizado aos 36 anos, conhecida como Casa da Flor na cidade de São Pedro da Aldeia no RJ tenha o tombamento provisório, iniciado em 2012, aprovado pelo órgão de preservação federal.

“De noite, acendo a lamparina, me sento nessa cadeira, oh, que alegria para mim! Quando eu vejo tudo prateado, fico tão satisfeito... Tudo caquinho transformado em beleza... Eu mesmo faço, eu mesmo fico satisfeito, me conforta...”
Gabriel Joaquim dos Santos,  http://casadaflor.org.br/hist.htm  acesso em 28-07-2015.
 “Muitos vão se surpreender mas, para mim, uma das obras mais importantes da arquitetura brasileira é a casa da flor, conhece? A casa foi construída, no começo do século vinte, por Gabriel Joaquim dos Santos, em São Pedro da Aldeia, no Estado do Rio. Para mim, é um exemplo raro de arquitetura espontânea, poética, sem qualquer imposição. A fachada você jura que é do Gaudí.”

                                                Ariano Suassuna, revista aU Arquitetura e Urbanismo, n. 94 – fev./2001 em resposta ao 
                                                entrevistador sobre qual seria um projeto exemplar da arquitetura moderna brasileira.




* imagens da Casa da Flor - web - acesso em 05-05-2016
* imagem do seminário - da autora
* Carta de Veneza acesse:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20de%20Veneza%201964.pdf

por Cristiane Py - www.cristianepy.com.br


2 comentários:

  1. Eu quero ir lá ... sou apaixonada nessa casinha tem tempo!!! Como diria Charlie, que poxa eu queria ter visto esse seminário!

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    1. Oi Raquel. Essa morada é, como disse Suassuna, uma das mais importantes obras de arquitetura no Brasil. Espero que pela sua fragilidade ela não se desmanche no ar como a morada vernacular das pedras das missões que Lucio Costa tombou pelo IPHAN em 1938 e que hoje não existe mais.

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