terça-feira, 8 de agosto de 2017

Museu de Congonhas - um livro aberto sobre o santuário, a obra de Aleijadinho e a cultura brasileira.

Essa semana saiu uma matéria na revista Veja falando sobre os "museus de identidade" que surgiram ou que estão em fase de projeto no Brasil. Entre eles podemos citar o museu do Cais do Sertão em Recife, o museu do Amanhã no Rio de Janeiro, o Japan House em São Paulo e o museu de Congonhas. Este último será o assunto do post de hoje.

Esses museus, que não possuem coleções, fogem do modelo tradicional e, através da tecnologia e da interatividade, expõe os valores imateriais da nossa cultura.

Eu devo admitir que nunca fui muito fã de museus. Sempre preferi, em minhas viagens, perambular pelas ruas das cidades observando a arquitetura e a vida urbana. Não foi diferente ao chegar em Congonhas há 3 meses. Minha expectativa estava voltada para o Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, obra iniciada em 1757 e concluída em 1872 e que tem como destaque entre seus artífices Antonio Francisco Lisboa (o Aleijadinho), Francisco Vieira Servas e Manoel da Costa Ataíde.

O santuário em Congonhas é composto por uma igreja localizada no topo de um sacromonte e no seu caminho, além da escadaria com esculturas em pedra (os famosos profetas de Aleijadinho), temos 6 capelas que narram os passos de Jesus. Tombado pela UNESCO como patrimônio mundial desde 1985, o Santuário é, segundo Mario de Andrade, o maior museu de escultura que existe no Brasil.

Ao finalizar minha peregrinação no santuário me dirigi ao museu. Ao contrário da tendência de se fazer "museus esculturas", o museu de Congonhas - projeto do arquiteto português Alvaro Siza cuja "a arquitetura sempre traz consigo uma sensibilidade em relação ao lugar onde está inserida, marcada por uma linguagem que é ao mesmo tempo moderna e tradicional" - não nos surpreende por fora e é bem capaz que alguns desavisados passem por ele.

Fachada do Museu de Congonhas
O museu é voltado para a história do santuário e da obra de Aleijadinho. Nos conta, através da sua interatividade, a história de Bom Jesus de Matosinhos, o início até o término da construção do santuário, passa pelo repúdio que suas esculturas causaram aos intelectuais do séc. XIX, a sua "redescoberta" pelos modernistas no início do séc. XX, o título dado pela UNESCO em 1985 e também pelas intervenções de restauro que sofreu ao longo do tempo.

Nos explica em detalhes todas as cenas das 6 capelas.

Nos explica de forma visual e didática os ofícios tradicionais e suas ferramentas.

instalação com ferramentas de ofícios tradicionais


Como não podia deixar de ser, em um museu voltado para a história de um santuário destinado a receber peregrinos, temos uma sala com exvotos.
ex votos
Ao final, nos deparamos com 2 réplicas 3D dos profetas e os espaços que aguardam as demais.


vista lateral do museu
Posso concluir o post dizendo que o Museu de Congonhas é um livro aberto que nos permite mergulhar de cabeça na história e na cultura brasileira. 

É uma visita imperdível que complementa a visita ao Santuário e, ao contrário de algumas práticas da "indústria cultural",  não inibe e nem direciona a percepção do visitante justamente por ser feita em um momento distinto à peregrinação no conjunto arquitetônico. 

* imagens da autora
* Matéria da revista Veja: Contra a crise, museus, pags. 94-97  - edição de 26 de julho de 2017

Postado por Cristiane Py

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