Essa semana saiu uma matéria na revista Veja falando sobre os "museus de identidade" que surgiram ou que estão em fase de projeto no Brasil. Entre eles podemos citar o museu do Cais do Sertão em Recife, o museu do Amanhã no Rio de Janeiro, o Japan House em São Paulo e o museu de Congonhas. Este último será o assunto do post de hoje.
Esses museus, que não possuem coleções, fogem do modelo tradicional e, através da tecnologia e da interatividade, expõe os valores imateriais da nossa cultura.
Eu devo admitir que nunca fui muito fã de museus. Sempre preferi, em minhas viagens, perambular pelas ruas das cidades observando a arquitetura e a vida urbana. Não foi diferente ao chegar em Congonhas há 3 meses. Minha expectativa estava voltada para o Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, obra iniciada em 1757 e concluída em 1872 e que tem como destaque entre seus artífices Antonio Francisco Lisboa (o Aleijadinho), Francisco Vieira Servas e Manoel da Costa Ataíde.
O santuário em Congonhas é composto por uma igreja localizada no topo de um sacromonte e no seu caminho, além da escadaria com esculturas em pedra (os famosos profetas de Aleijadinho), temos 6 capelas que narram os passos de Jesus. Tombado pela UNESCO como patrimônio mundial desde 1985, o Santuário é, segundo Mario de Andrade, o maior museu de escultura que existe no Brasil.
Ao finalizar minha peregrinação no santuário me dirigi ao museu. Ao contrário da tendência de se fazer "museus esculturas", o museu de Congonhas - projeto do arquiteto português Alvaro Siza cuja "a arquitetura sempre traz consigo uma sensibilidade em relação ao lugar onde está inserida, marcada por uma linguagem que é ao mesmo tempo moderna e tradicional" - não nos surpreende por fora e é bem capaz que alguns desavisados passem por ele.
Fachada do Museu de Congonhas |
O museu é voltado para a história do santuário e da obra de Aleijadinho. Nos conta, através da sua interatividade, a história de Bom Jesus de Matosinhos, o início até o término da construção do santuário, passa pelo repúdio que suas esculturas causaram aos intelectuais do séc. XIX, a sua "redescoberta" pelos modernistas no início do séc. XX, o título dado pela UNESCO em 1985 e também pelas intervenções de restauro que sofreu ao longo do tempo.
Nos explica em detalhes todas as cenas das 6 capelas.
Nos explica de forma visual e didática os ofícios tradicionais e suas ferramentas.
instalação com ferramentas de ofícios tradicionais |
Como não podia deixar de ser, em um museu voltado para a história de um santuário destinado a receber peregrinos, temos uma sala com exvotos.
ex votos |
Ao final, nos deparamos com 2 réplicas 3D dos profetas e os espaços que aguardam as demais.
vista lateral do museu |
Posso concluir o post dizendo que o Museu de Congonhas é um livro aberto que nos permite mergulhar de cabeça na história e na cultura brasileira.
É uma visita imperdível que complementa a visita ao Santuário e, ao contrário de algumas práticas da "indústria cultural", não inibe e nem direciona a percepção do visitante justamente por ser feita em um momento distinto à peregrinação no conjunto arquitetônico.
* imagens da autora
* Matéria da revista Veja: Contra a crise, museus, pags. 94-97 - edição de 26 de julho de 2017
Postado por Cristiane Py
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