sábado, 14 de maio de 2016

Restauro de Azulejos - Catedral Basílica de Salvador - Nov-2015

Em março deste ano fizemos um post onde falamos dos painéis de azulejo da Igreja e Convento de Santo Antonio em Recife - PE  que passaram por um processo de restauro realizado pelo IPHAN em 2011.

Hoje vamos falar da visita técnica na Basílica de Salvador, onde a turma do CECI 2015 teve a oportunidade de ver o trabalho de restauro de azulejos históricos em andamento.

As diretrizes para o restauro em Salvador foram similares ao restauro executado em Recife onde se optou pelo desmonte dos painéis.

No dia da visita, os painéis já haviam sido desmontados e aguardavam as intervenções de restauro conforme imagens abaixo
peças aguardando o restauro
peças aguardando o restauro
A primeira etapa é a dessalinização dos azulejos. Esse processo se faz necessário pois muitas das patologias em azulejos históricos são causadas pela umidade ascendente nas alvenarias que provocam o acúmulo de sal e posterior degradação nas peças. 

Conforme mostra a imagem abaixo, a dessalinização é executada deixando a peça imersa em água deionizada. O teor de sal é medido diariamente e o processo pode demorar até 45 dias.
equipamento para o processo de deionização da água
peças em processo de dessalinização
A próxima etapa é a remontagem e colagem das peças
remontagem e colagem das peças
peças em processo de secagem
Em algumas peças se faz necessário o enxerto, conforme imagem abaixo
vista do tardoz - enxerto já finalizado
A etapa seguinte é o que chamamos nivelamento, 
processo de nivelamento em andamento
nivelamento já finalizado
A reintegração cromática ou pictórica vem em seguida. Podemos observar, nas imagens abaixo, a técnica do pontilhismo. 

O pontilhismo e o trattégio são técnicas de reintegração pictórica de forma a criar um diferencial entre a pintura original e a restaurada. A distinguibilidade nas intervenções de restauro é uma das principais diretrizes da teoria da restauração de Cesare Brandi.

"A restauração deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo."
Cesare Brandi, teoria da restauração pag.33  

"A integração deverá ser sempre e facilmente reconhecível; [...], a integração deverá ser invisível à distância de que a obra de arte deve ser observada, mas reconhecível de imediato, e sem necessidade de instrumentos especiais, quando se chega a uma visão mais aproximada."
Cesare Brandi, teoria da restauração pag.47            


peça com reintegração pictórica utilizando a técnica do pontilhismo
peça com reintegração pictórica utilizando a técnica do pontilhismo
* imagens - arquivo pessoal - visita realizada em nov de 2015
* teoria de Cesare Brandi ler: Teoria da Restauração, Cesare Brandi, Ateliê Editorial, Artes & Ofícios


4 comentários:

  1. Prezada Prof. Cristiane, parabens pelo belissimo trabalho na restauração destes azulejos. Curiosidade: existe algum registro sobre qual teria sido o autor/artista que os produziu? Obrigado!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querido leitor, obrigada por acompanhar meu blog.

      Primeiramente gostaria de esclarecer que não sou professora. Na época do restauro da Basílica de Salvador (2016) estava fazendo especialização no curso de Gestão de Restauro pelo CECI. O post acima trata de uma das visitas técnicas que a turma do CECI realizou acompanhada pelo professor Tinoco.

      Atualmente trabalho com projetos, consultoria e fiscalização em assuntos relacionados ao patrimônio cultural edificado.

      Voltando a sua pergunta, acionei meu grupo de profissionais e a arq. Lilian Fabre, que fez parte da equipe de restauro da Basílica, me adiantou que não se lembra dos painéis terem autoria. Ela irá pesquisar nos relatórios da obra e me dará retorno. Qualquer informação encaminho para vc.

      Excluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Olá, sobre a azulejaria da Catedral Basílica de Salvador, o painel é do século XVII, nesse período não se tem autoria, era feito em oficinas, alguns painéis do século XVIII tem assinatura, mas a maioria não.
    Segundo a restauradora Zeila Maria Machado, que foi responsável por esse trabalho, desse período no Brasil só 3 painéis foram assinados. Ordem Terceira do Convento Santo Antônio em Recife (autor: Antônio Pereira), Paço do Saldanha (Salvador, porém, não existe mais, também de autoria de Antônio Pereira) e Convento São Francisco (Salvador, autoria de Bartolomeu Antunes).
    Espero ter ajudado mas se quiseres mais informações recomendo seguir a Zeila no Instagram, ela é bem acessível e disposta para compartilhar conhecimento. Abraços!

    ResponderExcluir